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Aprofundamento

CULTURA, INOVAÇÃO E ESTRATÉGIA: OS PILARES PARA

SALVAR CONTEXTOS

Jéssica Piovan

13 de fevereiro de 2021

Women

Quando surgiu essa provocação para esse pico da Passeio eu logo pensei: eu poderia fazer um podcast sobre o tema. Mas quando sentei para escrever eu percebi que eu vivo tudo isso no meu dia a dia, mas tangibilizar na escrita algo tão natural é uma tarefa difícil. Mas acho que podemos começar com dados, certo?

 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou uma pesquisa que nos traz a seguinte questão: 83% das empresas afirmam que vão precisar de mais inovação para crescer ou mesmo sobreviver no mundo pós-pandemia.

 

Isso é uma surpresa para você? Pra mim não.

 

Acredito que não seja mais sobre inovar para crescer e sim sobre inovar para permanecer e explorar oportunidades. Não gosto da palavra sobreviver, ela traz um tom voltado a escassez e menos prospero e dá a leve impressão que já estamos mortos (mas esse é um pico para uma outra edição), embora a pandemia esteja nos cercando disso.

 

Vamos trazer a cultura pop para o nosso contexto? 

Numa das primeiras cenas do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, um símio levanta um osso e o utiliza para bater em outro. Quando entende que pode usá-lo como ferramenta, coloca-se numa situação de vantagem.

 

Ou no nosso dia a dia, quando eu entendo que posso utilizar de determinado framework de trabalho para chegar em um resultado diferente do que já tenho, eu também estou inovando.
 

 

Isso é inovação, pois faz com que um simples ato de exploração fortaleça a nossa espécie ou nosso sistema empresarial e salve contextos. Toda inovação determina um ganhador. 

 

Nós temos a dimensão de inovação como algo enorme, estratosférico e que faça com que a gente crie opções disruptivas, mas as vezes é um movimento intuitivo que nos faz caminhar por um cenário e construir um futuro desejável.

 

A inovação salva contextos e nós podemos sentir a necessidade dela olhando para dois pontos:

- Crescimento: precisamos inovar para gerar um novo valor econômico, estratégico ou de negócio. 

- Problema ou restrição: se tenho problemas ou algo me restringindo preciso inovar.

 

Um ponto nós nos deparamos com a possibilidade de caminhar na prosperidade e no outro encontramos a escassez. Mas para sanar os dois, nós encontramos metodologias que nos levam para outra dimensão.

 

Uma ferramenta que apoia as empresas a gerenciar seu portfólio de inovação é a Matriz de Ambição de Inovação.  É um refinamento de um diagrama clássico desenvolvido pelo matemático H. Igor Ansoff para ajudar as empresas a alocar fundos entre iniciativas de crescimento. 

 

A matriz de Ansoff esclareceu a noção de que as táticas devem diferir de acordo com se a empresa estava lançando um novo produto, entrando em um novo mercado ou ambos.

Nessa versão há a substituição das escolhas binárias de produto e mercado de Ansoff (antigo versus novo) por uma gama de valores. Isso reconhece que a novidade das ofertas de uma empresa (no eixo x) e a novidade de seus mercados de clientes (no eixo y) são uma questão de grau. Sobrepomos três níveis de distância da realidade atual inferior esquerda da empresa.

Na faixa de atividade na parte inferior esquerda da matriz estão as principais iniciativas de inovação - esforços para fazer mudanças incrementais em produtos existentes e incursões incrementais em novos mercados. Seja na forma de novas embalagens (como os pacotes de 100 calorias da Nabisco de Oreos para lanches em movimento), pequenas reformulações (como quando a Dow AgroSciences lançou um de seus herbicidas como uma suspensão líquida em vez de um pó seco), ou maior comodidade de serviço (por exemplo, substituição de paletes por embalagens retráteis para reduzir os custos de remessa), essas inovações contam com ativos que a empresa já possui.
 


No canto oposto da matriz estão as iniciativas transformacionais, projetadas para criar novas ofertas - se não negócios totalmente novos - para atender a novos mercados e necessidades dos clientes. Essas são as inovações que, quando bem-sucedidas, chegam às manchetes: Pense no iTunes, no Tata Nano e na experiência da loja Starbucks. Esses tipos de inovações, também chamadas de ruptura, disruptiva ou de mudança de jogo, geralmente exigem que a empresa invoque ativos desconhecidos - por exemplo, construir capacidades para obter um entendimento mais profundo dos clientes, comunicar-se sobre produtos que não têm antecedentes diretos e desenvolver mercados que ainda não estão maduros.
 


No meio estão as inovações adjacentes, que podem compartilhar características com inovações centrais e transformacionais. 

 

 

Uma inovação adjacente envolve alavancar algo que a empresa faz bem em um novo espaço. O Swiffer da Procter & Gamble é um bom exemplo. Ele surgiu de um conjunto de necessidades que a P&G conhecia bem e se baseou na suposição dos clientes de que a ferramenta adequada para limpar pisos é um esfregão de cabo longo. Mas usou uma nova tecnologia para levar a solução a um novo conjunto de clientes e gerar novos fluxos de receita. As inovações adjacentes permitem que uma empresa aproveite os recursos existentes, mas precisam colocar esses recursos para novos usos. Eles exigem uma visão nova e exclusiva das necessidades do cliente, tendências de demanda, estrutura de mercado, dinâmica competitiva, tendências de tecnologia e outras variáveis de mercado.
 


A Matriz de Ambição de Inovação não oferece nenhuma receita inerente. Seu poder está nos dois exercícios que facilita:
 


Primeiro, oferece aos lideres de inovação uma estrutura para o levantamento de todas as iniciativas que a empresa tem em andamento: quantas estão sendo desenvolvidas em cada área e quanto investimento está sendo feito para cada tipo de inovação?
 

Em segundo lugar, dá aos líderes de inovação  uma maneira de discutir a ambição geral certa para o portfólio de inovação da empresa.

Mas cuidado! O time de Design da Ensaio possui uma máxima: inovação não é mágica, não é uma receita de bolo e nós não somos a Palmirinha, embora a gente ame esse meme.

Inovação é sobre se arriscar em um cenário extremamente complexo, onde não temos clareza do que vamos fazer até fazermos, mudarmos e quebrarmos um ciclo vicioso ou o status quo de um processo.

 

Lindo, né? Quase que poético... romântico. Mas posso falar a verdade? É extremamente doloroso. 

A dinâmica de uma gestão de inovação estratégica depende de aspectos como o nicho do negócio, a realidade do mercado, os objetivos estratégicos da sua empresa, maturidade do time e principalmente de como seu cliente/usuário vem se comportando ou vai se comportar.

Por isso precisamos de boas práticas que nos orientam em um fluxo criativo e 100% alinhado com a estratégia empresarial.

Quando assumi o time de Design, há quase 3 anos atrás, a minha missão era clara: temos o Design Thinking como um processo, temos esse  passo a passo e promovemos a inovação com muitas glórias em nossos clientes. Mas olhando a nossa jornada agora, percebo que o caminho para uma inovação que salva contextos está muito mais pautada em aspectos culturais do que apenas seguir o processo.

 

A cultura de uma empresa é voltada aos seus valores, aos comportamentos que nossos colaboradores exercem dentro da companhia e em como a estratégia é comunicada. Quando rodamos projetos de inovação em nossos clientes, nós percebemos que o grande valor que geramos ao trazer inovação como estratégia não é só no ROI, mas na mudança do modelo mental e das habilidades que aquele grupo realiza com base em nossos processos.

 

Tenho pra mim uma tríade hoje: cultura, inovação e estratégia. Há a máxima de que a cultura come a estratégia no café da manhã, certo? E isso é real. Culturalmente devemos trazer a inovação que nos leva a um desenho estratégico de qualidade, com base em dados e na intuição (não podemos nunca perder essa capacidade).

 

Se nós desejamos permanecer e crescer explorando novas oportunidades, nós devemos alimentar o nosso sistema complexo disso, instigar as pessoas a mudança de modelos mentais já definidos e trazer processos que nos apoiam em toda essa condução. Para inovar é preciso de liderança. Alguém ou alguma área deve tocar o bumbo e essa responsabilidade é algo incrível, mas doloroso.

 

Eu estou trazendo a palavra dor pela segunda vez nesse texto porque a verdade deve ser dita: nós aprendemos fazendo, falhando e iterando. Se você ainda acha que pode inovar sendo perfeito, você já não é tão perfeito assim: você está errado.

 

Aventure-se, esteja disposto e lidere... as possibilidades de se criar um mundo desejável estão aí: deleite-se.

Vamos para o próximo Pico?

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