#14 - Provocações | Nada é inútil
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Provocações

NADA É

INÚTIL

Bruno Leão

16 de fevereiro de 2022

Image by Joana Abreu

Quem nunca criticou o design de alguma coisa? Ou, até mesmo, tentou argumentar a compra de algum produto pela sua utilidade, mas, que no fundo, bem no fundinho, só comprou mesmo pelo aspecto visual, pelo significado, pelo que aquele item iria representar na sua vida. Certo?

 

 

Ah, qual é hein? Vai dizer que você nunca fez isso? Meteu essa?

Calma, não estou aqui para julgá-lo. Aliás, aqui vai minha confissão: já comprei muitos produtos que poderiam ser vistos como inúteis, principalmente do ponto de vista funcional, mas que atiçaram o meu emocional a ponto de desejá-los.

Pelo bem ou pelo mal, criticamos frequentemente o design das coisas, seja pelo aspecto prático ou estético, porque, no fim, somos todos designers. Somos todos criativos. Nos desafiamos e somos desafiados assim como temos todos nossos desafios, seja lá de qual maneira, solucionados.

Donald A. Norman disse bem: “SOMOS TODOS DESIGNERS quando reorganizamos objetos e móveis em nossas casas, quando escolhemos o livro que queremos ler, quando nos decidimos por este ou aquele sapato e transformamos coisas e espaços em nossas próprias coisas e espaços. Somos todos designers quando transformamos casas em lares, espaços em lugares, objetos em pertences. Embora não tenhamos controle sobre o design dos muitos objetos que compramos, somos livres para escolher o que usamos e como, onde, com quem e quando os usamos.” (Design Emocional - Por que adoramos ou detestamos os objetos do dia a dia, Editora Rocco, 2008)

Para quem não conhece, Donald Norman é Designer, Engenheiro, Ph.D. em Psicologia, é cofundador da Nielsen Norman Group, foi vice-presidente da Apple e executivo de grandes empresas como a HP (Hewlett-Packard).

Em seu livro, Design Emocional, Norman analisa a reflexão do ser humano em relação ao design de coisas sob 3 níveis de processamento: Visceral, Comportamental e Reflexivo. A ideia aqui não é nos aprofundarmos em cada um desses níveis, então, vou facilitar um pouco.

Design Visceral

Está muito mais ligado à aparência de um objeto ou produto. É algo que mexe com mecanismos humanos de baixíssimo controle. É analisar ou até mesmo comprar um produto por sua característica e impacto visual, por sua beleza. É maior que a gente, às vezes, desejar um produto. É profundo, é visceral.

Design Comportamental

Neste caso temos uma mescla entre o que conseguimos controlar, que é o aspecto de utilidade, de efetividade de uso, experiência, com algo que, às vezes, nos foge um pouco do controle: o prazer. Mas em linhas gerais, o Design Comportamental está ligado diretamente à utilidade do produto, se ele atende diretamente uma necessidade, se ele de fato funciona a favor do usuário e do objetivo do produto.

Design Reflexivo

O Design Reflexivo está diretamente conectado à autoimagem, à sensação de pertencimento, satisfação pessoal, conquista, status, lembranças, nostalgia, etc. É comprar um Macbook ou um iPhone e agora pertencer ao mundo da Apple, é comprar uma jaqueta de couro estilosa e uma Harley-Davidson e se sentir Badass. Eles não são necessariamente os produtos mais bonitos ou úteis em um senso comum, mas com certeza estão diretamente ligados a alguma tribo ou estilo de vida.

Pois é, olhando sob o ponto de vista desses 3 níveis, dá até pra se arrepender de ter criticado algum "coleguinha" por ter comprado algo, que, em sua ótica era inútil. "Nossa, quem gasta dinheiro com isso?", certo?

Inútil é não criar nada!​

Sim, venho aqui repetir a provocação só porque é bem por aí mesmo. Criticamos tudo e fazemos julgamento o tempo todo, mas, o que, de fato, criamos? Aliás, percebemos o quanto criamos? Você percebe?

Criamos muitas coisas, como o próprio Norman nos trouxe, tomamos uma série de decisões e buscamos soluções para tudo a todo momento, e, a reflexão que fica é, o que definimos como útil ou inútil, realmente importa?

Útil é continuar sendo humano, continuar tendo confiança de criar algo que possa ser analisado por esses 3 níveis, que permita outros seres humanos navegarem e interagirem seja lá de qual forma dentro do design de cada coisa, decisão, pensamento, expressão, visão e etc que criamos o tempo todo em nossas vidas.

Uma coisa eu te garanto, você pode até achar que muita coisa por aí é inútil. Mas não deixe de continuar criando, mesmo que inútil ao olho alheio, no fim, será o seu lado humano e criativo que lhe reservará uma passagem para o lado útil da força.

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