Não trabalhe “remoto”
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Não trabalhe “remoto”

Atualizado: 21 de fev. de 2019


Dependendo de quem você perguntar, trabalho “remoto” vem ganhando vapor na indústria da tecnologia ou ainda sendo um cobiçado-mas-raro privilégio para poucos. Um padrão que parece emergir:


  • Gigantes da tecnologia como Amazon e Google, apostam que a marca corporativa deles e poder de aposta são fortes o suficiente para atrair e reter talentos locais, estão dobrando os esforços para times locais. A escolha local “não-convencional” da Amazon em Northern Virginia e New York City para a presença hype da HQ2, assim como a Google anunciou que irá dobrar a presença em New York City, parece suportar essa tese.

  • Enquanto isso, empresas menores de tecnologia estão lentamente (relutantemente?) chegando a um acordo com o trabalho “remoto”, já que eles são pressionados mais e mais por disponibilidade de talentos e custos em áreas tecnológicas gigantes como San Francisco e New York. (Por alguma razão, algumas pessoas querem se mudar pra lá.)


Existem objeções convencionais sobre trabalhar “remotamente”: como, VCs odeiam isso, e um caminho simples de dependência levam muitos fundadores a nem considerarem isso até terem um time sólido no mesmo local.


Adotar o trabalho “remoto” não é simplesmente contratar alguém de Sioux City (uma cidade considerada longe, em Iowa) — isso envolve uma série de organizações intencionais e mudanças culturais que muitos líderes estressados só não querem lidar com isso.


Mais do que isso, muitos começam com ideias intrínsecas básicas de uma cultura de trabalho antiga que não traduzem na economia do conhecimento de 2018. Esse são reais, mas solucionáveis, obstáculos para ultrapassarmos.


Trabalho remoto


Um obstáculo grandemente negligenciado da adoção do trabalho “remoto” é a concepção popular de como isso funciona de fato, a razão pela qual você tem visto todos essas aspas na palavra remoto.


O termo trabalho “remoto” implica que tarefas estão sendo realizadas em um acordo como extensão, e uma remoção crítica entre o objeto e o sujeito. Eu estou aqui, e “o trabalho” está lá, em outras palavras. Como em qualquer lugar, esse enquadramento é crítico. E na maioria também errado. Não adote trabalho “remoto”. Adote trabalho distribuído.


O que trabalho “remoto” nos lembra é algo como uma colaborador sozinho em casa conectando em uma estação de trabalho de uma sede corporativa para fazer grandes trabalhos em um server. Nesse caso, o empregado está realmente “remoto” no sentido em que ele/ela está em um lugar, e o “trabalho sendo feito” está em outro.


Mas em empresas da indústria do conhecimento, não é assim que as coisas funcionam. Ao contrário, nós trabalhamos em artefatos digitais compartilhados, tanto individualmente quanto em times. Se você escreve código, texto ou constrói estratégias de marketing, “o produto” vive online, onde é trackeado, tem uma versão controlada e salva para todos reverem. Se “o produto” é esse conteúdo, então “o trabalho” é o processo generativo por trás disso, em que novamente, é normalmente feito pela combinação de indivíduos e times. O conceito individual é que, em minha própria experiência, é na maioria das vezes a mais valiosa.


Eu cheguei a conclusão de que o número de reuniões no seu calendário está diretamente, inversamente proporcional a sua produtividade no dia. Obviamente que não estou dizendo que todas as reuniões são ruins ou perda de tempo, mas que a maioria das culturas de trabalho tendem sim a terem um direcionamento que não é muito guiado para conduzir a um pico de produtividade do time. Times fazem mais reuniões quando não tem trabalho importante suficiente para fazer.


Trabalho distribuído


No espaço de trabalho moderno da indústria do conhecimento, a maior parte da colaboração é feita digitalmente por e-mail, mensagens instantâneas ou chat, e algumas vezes por voz ou chamadas de vídeo.


Nós temos reuniões também, claro, mas eu aposto pelo menos um pouco que comparado ao volume de outras comunicações que recebemos (particularmente e-mail e chat), essas são a minoria das interações.


A maior ironia dos tempos é que centenas de milhares de trabalhadores da indústria do conhecimento são forçados a viverem perto de metrópoles gigantescas que tem um custo altíssimo e com um longo tempo de transporte simplesmente para conviverem em um escritório, usando fones de ouvido com cancelamento de ruído, e então se comunicarem entre eles principalmente por e-mail e Slack.


“Trabalho remoto” não descreve realmente uma alternativa para esse estado das coisas. Ao invés disso, eu penso que “trabalho distribuído” é uma forma melhor de compreender a maneira como uma empresa se organiza para capturar por inteiro o valor dessas ferramentas.


Trabalho distribuído — ou “times distribuídos” — se refere a um sistema de organização na qual uma empresa tem principalmente em sua forma digital. Como uma empresa da indústria do conhecimento, os produtos são digitais, vivem online e estão acessíveis para qualquer um que precisa deles; o trabalho é feito tanto individualmente e colaborativamente. Quando a colaboração é chamada, todos buscam uma vasta gama de ferramentas digitais disponíveis: desde chat simples ou telefonia até as conferências, Trello compartilhado, Google Docs/Sheets e outros. Isso tudo pode ser feito independentemente da geografia, e na verdade parece muito com o que times locais fazem hoje mesmo. A única diferença é que em um modelo distribuído, os colegas de trabalho não estão sentados embaixo do mesmo teto.


Da mesma forma que sistemas computacionais distribuídos oferecem as vantagens como escalabilidade, tolerância a falhas e eficiência no geral, trabalho distribuído promete o mesmo:


  • Escalabilidade — qualquer empresa local está limitada a um mercado de mão de obra de uma distância de transporte ao redor da sede. Particularmente para empresas pequenas competindo com as GAFAs (GAFA significa Google, Apple, Facebook, e Amazon) por talentos em uma área grande, isso pode ser um desafio formidável.

  • Tolerância a falhas — como resultado do potencial maior de mão de obra, uma empresa distribuída não fica paralisada quando pessoas com habilidades chave deixam a empresa. Preencher habilidades críticas é mais fácil quando a geografia não é um fator limitante para a busca de talentos.

  • Eficiência no geral — mesmo com subsídios generosos para os espaços de trabalho em casa dos funcionários e viagens semi-regulares para encontros presenciais, times distribuídos são geralmente mais baratos e mais flexíveis quando comparado com os custos de uma sede centralizada como um escritório — particularmente em áreas mais caras.


E sobre colaboração?


A crítica mais popular desse estilo de trabalho é que supostamente não funciona para uma colaboração “profunda”. Talvez é bacana para coordenar tarefas, os críticos dizem, mas nunca irá substituir juntar alguns de seus colegas em uma sessão de brainstorming em um quadro branco pessoalmente. (Sempre que eu ouço essa crítica, minha simpatia vai para os colegas desse crítico, que aparentemente vivem em um medo constante de serem pegos e o trabalho deles desandarem pela necessidade inesperada do seu colega para um brainstorming.)


Como alguém que já fez um monte de “quadro branco” com meus colegas também, eu concordo que colaboração pessoalmente pode sim ser de grande valor. Nesse caso, trazendo um time distribuído junto pessoalmente uma vez por quarter ou metade é uma abordagem popular pelas empresas que usam esse modelo, e claro pequenas, para isso reuniões podem ser agendadas se preciso também. Essas são boas oportunidades para coisas como planejamento de longo prazo, estratégia de roadmap, ideação e outras coisas.


Dito isso, eu apenas não vejo a necessidade de uma estratégia profunda e sessões de definição de visão com times multifuncionais de meus colegas no dia a dia. Como eu já escrevi antes, Gestão de Produto é muito mais sobre execução consistente dos planos, do que ficar pintando visões high-level.A “coisa da visão” é certamente importante, mas não é o que a maior parte do trabalho é. Ao invés disso, a maior parte da Gestão de Produto como função é manter o ritmo de 5 ou 10 (ou 20, ou…) diferentes tópicos ao mesmo tempo, se certificando que eles estão mais ou menos alinhado, e mergulhando em uma colaboração “light” com vários colegas diferentes no dia a dia. A maioria das outras funções operam de forma similar.


Isso, de fato, é um modelo perfeito de trabalho distribuído. A melhor coisa sobre a interação digital é que porque ela é assíncrona, isso não só permite vários tópicos simultâneos de perguntas/respostas, mas também permite uma pessoa desativar as notificações e focar em uma tarefa quando necessário. Vítimas de escritórios abertos choram com esse pensamento.


Algumas experiências pessoais


Eu trabalhei em times distribuídos durante quase 4 anos, primeiramente em um time de Product Marketing e então como um Product Manager. Eu trabalhei com colegas espalhados pelos Estados Unidos, e até mesmo na Europa e Leste e Sul Asiático. E sabe de uma coisa? Funcionou perfeitamente.


A grande chave para fazer um modelo de time distribuído ter sucesso é programar uma organização de “cultura de trabalho” com um viés voltado a usar essas ferramentas colaborativas que mencionei. No nosso caso, desde que não existia efetivamente uma sede real, claro todas as reuniões tinham um WebEx e uma linha de conferência. Nós utilizávamos outras ferramentas se necessário, mas sinceramente encontramos que pura mensagem instantânea, e-mail e telefonia preenchia 95% das nossas necessidades. Se nós tivéssemos Slack e Trello então, eu imagino que poderíamos ter feito ainda mais. Mas como era, nós geríamos um negócio SaaS bem-sucedido, multimilionário gerido mais ou menos que completamente distribuído. Todos os que dizem que trabalho distribuído “não funciona” só… ainda não tentou.


Eu também tive a experiência de ser um funcionário verdadeiramente “remoto” em uma sede corporativa. Aquela experiência foi muito mais desafiadora. Enquanto eu ainda lidei para me manter eficiente, eu cheguei a conclusão que face a face na sede era sem comentar extremamente necessário como parte do meu trabalho, e vinha com o custo de eu ter ficar muito tempo longe de casa. Eu não gostava.


Avanços tecnológicos estão criando tanto novos tipos de trabalho, assim como novas formas de trabalhar. Mesmo que empresas da indústria do conhecimento ainda resistem a esses avanços com a mesma relutância e suspeita de um carroceiro olhando para o motor a combustão. Entre a moradia em gigantescas metrópoles econômicas com uma crescente pouco atraente e o avanço de novas ferramentas colaborativas, modelos de trabalhos distribuídos são fundamentalmente disrupções organizacionais tecnológicas na forma como nós trabalhamos.


Poucas empresas inteligentes estão adotando elas hoje e se posicionando para o sucesso no longo prazo. Já os outros, é melhor rezarem que essa coisa chamada internet seja apenas uma “modinha”.



 


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